terça-feira, 15 de junho de 2010

Agricultura intensiva reduz aquecimento global, diz estudo

Fertilizantes, pesticidas e sementes híbridas de alto rendimento salvaram o planeta de uma dose extra de aquecimento global. Essa é a conclusão de uma nova análise segundo a qual a intensificação da agricultura, por meio da revolução verde, tem sido acusada injustamente pela aceleração do aquecimento global.

Steven Davis, da Instituição Carnegie de Washington, em Palo Alto, Califórnia, e colegas, calcularam a quantidade de gases-estufa emitida no último meio século se a revolução verde não tivesse acontecido. O estudo foi publicado na prestigiada revista "PNAS".

A análise incluiu dióxido de carbono e outros gases, como metano liberado por plantações de arroz. Os autores notaram que, de modo geral, a intensificação da agricultura ajudou a retirar o equivalente a 600 bilhões de tonelada de CO2 da atmosfera --cerca de um terço de toda a emissão de gases-estufa entre 1850 e 2005.

As emissões foram reduzidas por a revolução verde aumentou o rendimento das plantações --por exemplo, ao promover o uso de variedade híbridas, que produzem mais, e pela uso generalizado de pesticidas e fertilizantes. Isso significa que mais alimento pode ser produzido sem a necessidade de cortar grandes áreas de floresta.

"Acho que nossos resultados mostram o perigo de se focar em apenas uma parte de um sistema complexo", diz Davis em resposta às afirmações de ambientalistas, que veem na agricultura intensiva uma das principais responsáveis pelo aumento das emissões de gases-estufa devido ao processo de produção de fertilizantes e produtos agroquímicos.

"É verdade que as emissões derivadas da manufatura de fertilizantes cresceu por causa da revolução verde", diz Davis, "mas nós mostramos que essas e outras emissões diretas de agricultura são mais que compensadas pelas emissões indiretas que são evitadas ao se deixar terras cultiváveis sem manejo".

Além disso, ao possibilitar que agricultores produzam mais em suas propriedades, a revolução verde evitou que uma área estimada de 1,5 bilhão de hectares --uma vez e meia a área dos EUA-- fosse utilizada para agricultura.

"Nós propomos que é muito importante continuar aumentando a produtividade e, ao mesmo tempo, usar recursos agrícolas, como fertilizantes e água, da maneira mais eficiente possível", disse Davis.

EFEITOS NEGATIVOS

Helmut Haberl, que estuda o efeito da agricultura sobre recursos globais na Universidade Klagenfurt, em Viena (Áustria), considera o estudo impressionante e bem conduzido. No entanto, adverte que o estudo não leva em conta outros fatores danosos da agricultura intensiva, como a degradação do solo, perda de biodiversidade, efeitos tóxicos de pesticidas sobre os agricultores e sofrimento animal.

David Pimentel, da Universidade Cornell, em Nova York, uma autoridade em agricultura orgânica, questiona as conclusões de Davis. Ele cita um experimento de 22 anos conduzido por sua equipe que mostrou que o rendimento de produções de milho e soja orgânicos é equivalente ao da agricultura convencional, mas consome 30% menos energia de combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que dobra a quantidade de carbono no solo.

Pimentel também afirma ter demonstrado que a produção orgânica na Indonésia e Índia consome muito menos energia por caloria de arroz ou milho produzido do que a produção intensiva desses produtos nos Estados Unidos.

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