quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O princípio do fim da água

Praga, República Checa, 26/1/2011 – Metade da população da República Checa pode sofrer escassez hídrica devido à mudança climática, alerta o especialista Michal Marek. Este país se tornou um dos mais secos da União Européia (UE), segundo a imprensa nacional, e os especialistas em clima afirmam que a terra e os vitais fornecimentos de água subterrânea estão secando.

Michal, diretor do projeto CzechGlobe de pesquisa sobre a mudança climática, financiado pela UE, disse à IPS que “a República Checa já está vendo os efeitos deste fenômeno em eventos meteorológicos extremos mais freqüentes e nas alterações na biodiversidade”. Entretanto, “possivelmente, a mudança mais importante esteja em uma paisagem cada vez mais árida, na medida em que os períodos secos ficam mais longos e são seguidos por chuvas intensas que o solo não consegue absorver. Isto tem um efeito muito significativo sobre os fornecimentos de água subterrânea”, acrescentou.

Especialistas em clima e meteorologia da Europa central dizem que a região experimenta um clima cada vez mais extremo, com secas extensas no verão e severas inundações no inverno. Embora nem toda Europa oriental e central necessariamente tenha os mesmos problemas que a República Checa tem com seus lençóis freáticos, devido às condições geológicas próprias do país, as fortes chuvas que caíram em solos muito secos, que não podem absorver a água, podem aumentar o risco de inundações. Polônia, República Checa, Eslováquia, Hungria, Áustria e Alemanha foram afetadas por devastadoras inundações nos últimos dois anos.

As temperaturas de verão e inverno também quebraram recordes na última década. Especialistas em clima especulam que as “zonas” meteorológicas que cobrem a região estão se mudando para o Norte, e que o clima típico do norte da Itália – que inclui verões longos, quentes e secos e pancadas de chuvas fortes –, se mudará algumas centenas de quilômetros para o norte, cobrindo boa parte de Áustria, Eslováquia e áreas da República Checa.

Por outro lado, o clima associado com esses países mudará, levando consigo diferentes padrões meteorológicos a regiões da Alemanha e da Polônia. Com estas mudanças, os padrões de chuvas também serão diferentes, e na República Checa os especialistas em hidrologia afirmam que tais mudanças já são observadas. Os especialistas em clima alertam que essas modificações podem apresentar um problema dramático para os recursos hídricos do país.

Em 2006, o Instituto de Hidrometeorologia Checo informou que, segundo algumas pesquisas, em meados deste século alguns rios do país terão secado completamente. Algumas organizações ecologistas nacionais disseram ser possível que em 2050 não haja água suficiente para atender as necessidades básicas da população. Várias localidades checas, que dependem muito dos lençóis freáticos para seu abastecimento, dizem já sentir os efeitos do esgotamento dos recursos.

Segundo empresas checas que perfuram poços em residências particulares, há 30 anos não era necessário ir além de oito metros para encontrar água, e agora é preciso chegar aos 30 metros de profundidade. Os especialistas em hidrologia afirmam que nos últimos anos houve uma mudança muito clara nos padrões de chuva, que ocorrem com menor freqüência e mais intensidade. “A mudança climática é uma realidade. Agora as chuvas se distribuem de modo diferente ao longo do ano. Os ritmos das precipitações mudaram aqui”, disse à IPS Anna Hrabankova, do Instituto T. G. Masaryk de Pesquisas em Recursos Hídricos.

A República Checa, como as vizinhas Polônia e Eslováquia, sofreu graves inundações no ano passado. Foi a terceira ocasião tão devastadora para o país nos últimos 13 anos. Especialistas em mudança climática afirmam que o aumento das temperaturas mundiais fará com que em alguns lugares haja chuvas mais intensas em períodos mais curtos. Um informe divulgado na semana passada pela imprensa checa indicava que 50% da população do país – a mesma proporção que depende dos lençóis freáticos – enfrenta uma escassez de água devido à redução dos níveis subterrâneos.

Alguns especialistas consideram que estes dados são alarmistas, mas Michal disse à IPS que são “completamente realistas”. Os “problemas com o fornecimento de água só vão piorar, e serão o maior problema criado pela mudança climática a afetar a República Checa no futuro, piores do que as alterações na biodiversidade ou em qualquer outra coisa”, destacou.

Organizações ambientalistas, como o capítulo checo da Amigos da Terra, disseram que é preciso tomar medidas para garantir que não se perca água. Por exemplo, reverter cursos de rios que com o passar das décadas foram canalizados artificialmente, fazendo com que não pudessem reter a água. “A solução é planejar a paisagem para impedir que a água escorra da terra, mudando o uso da terra, as práticas agrícolas e as características naturais que ajudam a reter a água”, disse Michal. Envolverde/IPS

Fonte: Envolverde

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